
03 - LOBEIRA Solanum lycocarpum A.St.-Hil. (SOLANACEAE)

Planta perene, arbustiva ou arbórea, de 0,50 m até 3,5 m de altura, ramificada, de caules tortuosos, recobertos de espinhos. Folhas simples, alternas, de vários formatos, de ovais a lanceoladas, onduladas, ligeiramente esbranquiçadas na superfície inferior, com presença de espinhos na nervura central da folha. Flores parecidas com as da berinjela, de coloração violeta intensa, com centro amarelo, com cinco pétalas, ocorrendo na ponta dos ramos. Fruto tipo baga, de até 10 cm de diâmetro, arredondado e na cor esverdeada, recoberto com pilosidade, semelhante a um grande jiló.
É para se pensar que, se existiu essa planta por aqui, o lobo guará, seu mais famoso dispersor, devia ser um típico representante da fauna paulistana. O lobo não apenas se alimenta da fruta, é dependente do seu consumo como vermífugo, protegendo seus rins contra um tipo de verme que os acomete frequentemente. Sem a fruta, a maioria desses lobos morreria.
Distribuição: Da Bahia ao Paraná, em forrações de Mata Atlântica, Cerrado e áreas antropizadas.
Situação em São Paulo: Ocorre no Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, e em áreas ao redor, sendo muito raro encontrá-la em fragmentos dentro da área urbana.
Como plantar: Introduzimos na Praça da Nascente, uma muda cultivada pelo Lucio Tamino, um grande observador da natureza que simplesmente retirou a semente da polpa da fruta e a plantou em um vaso com terra vermelha. As sementes podem ser lavadas, secas ao sol e guardadas por até um ano, nesse caso quando plantar, lixe a casca de um lado da semente, para que absorva melhor a água e supere a dormência. Com um ano e aproximadamente 50 cm, pode ir para o local definitivo, sempre a pleno sol.
Usos: Das solanáceas com ocorrência no Cerrado, é uma das plantas com maior fruto, usada no consumo humano, mas muito apreciado pela fauna, especialmente por lobos, o que dá origem a seu nome popular e científico.
ALMEIDA, S.P. ET AL. CERRADO: ESPÉCIES VEGETAIS ÚTEIS. PLANALTINA: EMBRAPA-CPAC, V. 464, 1998.
DURIGAN, G. PLANTAS DO CERRADO PAULISTA: IMAGENS DE UMA PAISAGEM AMEAÇADA. PÁGINAS & LETRAS EDITORA E GRÁFICA, 2004.
LAVRAS, M. G. BIOLOGIA FLORAL DE UMA POPULAÇÃO DE SOLANUM LYCOCARPUM ST. HIL.(SOLANACEAE) EM. REVTA. BRASIL. BOT, V. 11, P. 23-32, 1988.
A periferia de hoje é o centro de amanhã. A cidade não para de crescer e as Lobeiras vão sendo empurradas para longe.

Lúcio Tamino, tem uma grande sensibilidade com plantas, mora numa casa rodeado delas, e é um observador atento. Ele conseguiu uma fruta do lobo, retirou as sementes e fez algumas mudas.

A conversa com Lúcio sempre é interessante. No começo apenas eu e ele conseguimos apreciar a estética da lobeira com seus espinhos. Realmente não é uma planta "bonita" para o senso comum, apesar das flores roxas, os espinhos afastam.

O interessante numa planta vai muito além das flores coloridas, os espinhos também são bonitos. É uma planta importante para os lobos-guarás, que devoram seus frutos e espalham suas sementes.

Infelizmente alguém não gostou delas, tempos depois foram destruídas, uma prática aleatória e constante desde sempre. Não sobrou nenhuma!

No entanto um ano depois, uma lobeira germinou em outro ponto da praça. Será que passou algum lobo-guará por lá? Não exatamente, na falta do bicho, o engenheiro agronômo Paolo Sartorelli, jogou algumas sementes ao vento, do alto da pedra do careca. Nessa loteria, basta uma dar certo! O exemplar, continua encantando até hoje no Cerrado Infinito da Praça da Nascente.

