

01 - CAPIM-RABO-DE-BURRO Schizachyrium condensatum (Kunth) Nees (POACEAE)
Planta perene, de 0,35 – 1,1 m de atura, colmos eretos, sem ramificações nos nós superiores. Folhas de 3-25 × 0,2 – 0,8 cm, com ou sem pilosidade em ambas as faces. Inflorescência com até 45 cm de altura, com muitos ramos floríferos, com espiguetas de pilosidade abundante, dando aparência de plumas, ou como o nome popular sugere lembrando um rabo de burro.
Esta não é uma planta que associamos á cidade. Visualmente nos transporta para a roça, onde supostamente podemos ter uma vida mais saudável. Ou pelo menos maior contato com o que chamávamos de natureza. Talvez um bom começo para pensarmos a natureza seja lembrar de respeitar nossa biologia, o que na vida urbana pode ser um diferencial importante. Esta planta pode ser um bom lembrete disso.
Distribuição: Nativa em toda a América tropical e subtropical, ocorrendo em grupos nos cerrados e campos secos com solos arenosos ou pedregosos, e em locais alterados.
Situação em São Paulo: Presente em alguns terrenos baldios e em beiras de rodovias, formando densos maciços onde se torna a espécie predominante. Foi o que visualizei em um grande terreno abandonado na Rodovia Anhanguera, que funcionou como estacionamento de caminhões e tinha parte do terreno asfaltado. Os capins cresceram por cima do asfalto, demonstrando que se a cidade fosse abandonada seria coberta pela vegetação em poucos anos.
Como plantar: Multiplica-se facilmente por sementes, que são produzidas quase todo o ano assim como por divisão de touceira. Ao transplantá-la, recomendamos que remova todo o torrão e cave uma cova com o dobro da largura, afofando a terra. Mantenha a maior porção das folhas ao redor e se necessário adicione outras para proteger o colo da planta, mantendo a umidade necessária para que ela se restabeleça.
Usos: Usada em projetos de restauração, principalmente veredas e campos úmidos, por sua capacidade de boa cobertura e estabilização do solo, assim como para ornamentação de jardins, embora a maioria dos paisagistas prefiram usar o exótico capim-do-texas.
LONGHI-WAGNER, H. M. ET AL. FLORA FANEROGÂMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. VOL. 1. POEACEAE. FAPESP/HUCITEC, SÃO PAULO, 2001.

Coletando sementes de capim-rabo-de-burro. Não tem segredo, terrinha, sol, e uma boa irrigação. Você terá centenas de mudas!

Primeiros capins-rabo-de-burro plantados por pessoas em São Paulo! Culturalmente, este capim é visto como uma praga e sempre foi eliminado por jardineiros, paisagistas, hortelãos, pecuaristas etc. O Cerrado Infinito inverteu essa lógica colonialista, inaugurando um pensamento eco-cultural campestre na contramão da história do urbanismo de São Paulo.

Icônico, esta espécie foi uma das primeiras que plantamos em 2015, logo no começo do processo. Depois de algumas semanas, com as plantas já adaptadas, alguém botou fogo, um recado de que não seria fácil mudar a cultura sobre eles.

Não deixa de ser irônico conseguir convencer alguém a pegar na enxada para plantá-los. Há coisas que entendemos melhor usando as mãos: a atividade manual é uma extensão mental, importante de várias formas. Infelizmente, muita gente associa o uso da ferramenta a um ato de servidão.

No início, os jardineiros da prefeitura eram uma ameaça. Já existia um histórico de conflitos com outras iniciativas de plantio na praça. Eles cortavam tudo entre 5 cm e a copa das árvores, mas logo entenderam do que o Cerrado Infinito se tratava. Muitos tinham vindo de áreas rurais e conheciam as plantas. Provavelmente, a saudade da paisagem de origem de alguns deles tenha ajudado a criar uma simpatia para preservar as plantas do Cerrado Infinito.

O capim-rabo-de-burro iluminado à noite na Casa das Caldeiras em 2022. Ao longo dos anos, ele começou a ser adotado por alguns paisagistas em composições florísticas que buscam evocar ambientes naturais. Infelizmente, a esmagadora maioria ainda prefere usar o exótico capim-do-texas, que já se espalhou pela cidade e compete com os capins nativos.

A fábrica submersa nos capins-rabo-de-burro? A vontade era essa, mas os poderes da cidade não deixaram o cerrado continuar, depois de um ano ele foi destruído.

