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Ativações e eventos

"Cerrado Infinito é o primeiro experimento de recriação de uma paisagem de cerrado dentro de uma área urbana pública. Um refúgio de plantas inevitavelmente extintas ao longo do desenvolvimento da cidade de São Paulo, e expulsas para a periferia até seu completo desaparecimento. O projeto as resgata, mapeando sobreviventes, coletando mudas e sementes para serem plantadas em conjunto, formando ao longo do tempo a visualidade dos extintos Campos de Piratininga.

A tentativa é desprogramar territórios pela cidade, e devolver a terra a um marco zero, anterior à ocupação colonial. Também é um esforço para cultivar um terreno baldio e biodiverso, de plantas, animais e de pessoas á medida que recuperam a memória do lugar que habitam. 

O projeto, instaura um novo começo, onde os cidadãos são convidados a plantar cerrado, criar um convívio cotidiano com essas plantas e uma nova cultura campestre pela cidade, que inverte a estética valorizando  uma  flora sempre desconsiderada, sistematicamente destruída, e vista como mato do atraso. Trata-se entre outras coisas, de tomar ciência das histórias do nosso desenvolvimento e destruição,  trazendo à frente a importância dessa pequena área de cerrado que já ocupou mais da metade da cidade. Este primeiro sertão, hoje extinto, esquecido e fora da cartografia do bioma, palco e origem da cultura sertaneja com sua culinária, música e comportamento, forjou uma cidade que apaga seu reflexo caipira entre edifícios de vidro. O projeto é um lembrete do paraíso perdido paulistano com sua natureza riquíssima e biodiversa, um mosaico de biomas, com delicados campos de cerrado, várzeas pantaneiras  e a exuberante floresta atlântica. Se esta cidade é um modelo de desenvolvimento para o resto do pais, a obra não deixa de ser um anti-monumento involuntário, á nossa inabilidade de evitar a destruição dos biomas e da nossa identidade com a paisagem natural."

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“Vi terras da minha terra. Por outras terras andei. Mas o que ficou marcado no meu olhar fatigado. Foram terras que inventei.”

Trecho do poema "Testamento" de Manuel Bandeira ( 1943 )

Territórios do Cerrado Infinito

01-Cerrado Infinito - Praça Homero Silva (Praça da Nascente) Rua André Casado, travessa da Avenida Pompéia 2140,  Bairro da Pompéia, Zona Oeste.

Iniciado em 13 de Junho de 2015. área atual estimada de 2.000m2.

02- cerrado Infinito Escola Estadual Jardim das Camélias, Rua, Bairro Jardim das Camélias, Zona Leste. Iniciado em 2015, desativado em 2017.

03 -Cerrado Infinito da Borda do Caaguaçu - Alameda Jaú 1742, Jardim Paulista, São Paulo, 01420-006.  Iniciado em 2022.

04- Cerrado Infinito Casa das Caldeiras - Avenida  Matarazzo, Barra Funda, São Paulo, 01156

Iniciado em 2022, DESATIVADO EM JANEIRO DE 2024.

O cerrado

​Quando o padre José de Anchieta subiu a serra do Mar a partir de São Vicente, encontrou uma paisagem diversa da densa floresta tropical. No planalto paulista o clima ameno e os campos arbustivos traziam um conforto familiar, sugerindo aspectos da vegetação mediterrânea. Os Campos de Piratininga, eram um mar de colinas que alternava bosques de Mata Atlântica, araucárias e várzeas alagadas, com extensos campos cerrados. Esse contraste com a Mata Atlântica, foi determinante para a escolha dos primeiros povoados dos colonizadores portugueses, como atestam os nomes de Vila de São Paulo de Piratininga, Santo André da Borda do Campo, São Bernardo do Campo ou Santo Amaro da Borda do Campo.  Essa paisagem campestre, deu espaço primeiramente para o gado e o trigo,  depois para os ciclos da cana de açúcar e do café, que por sua vez desapareceram sob a intensa industrialização e desenvolvimento urbano. Esquecido pela cartografia típica que define o bioma, distante dos livros escolares, se tornou inimaginável para a grande maioria dos cidadãos que apontam a Mata Atlântica como a paisagem nativa paulistana. Hoje, soterrado numa amnésia profunda, o campo continua, só que agora rupestre, com cânions de concreto e asfalto, e sua vegetação composta de 96% de plantas estrangeiras, ainda está longe de constituir uma floresta. A cidade é o novo ecossistema, recriado perpetuamente, onde o cerrado como sua antítese é o terreno baldio original, ocupando um espaço em suspensão que não participa da cidade, e entendido apenas como potência de vir a ser alguma coisa.

O infinito

​​A trilha foi a primeira intervenção do ser humano na paisagem, e muito antes dos grafismos pré-históricos, uma linha que se desenha rasgando a vegetação e o relevo. A necessidade de repetir seu percurso, desenvolve ao longo do tempo nas suas margens, meios de subsistência, moradia ou negócios, substituindo completamente o território natural pelo território produtivo. A trilha do “Cerrado Infinito” é um processo reverso que se forma á partir de ações contínuas de descolonização da paisagem vegetal urbana. Ocupa áreas já destinadas a uma função, como praças públicas, gramados, jardins ou locais que tenham espaço a ser transformado, liberando o solo de qualquer  função pré-determinada, substituindo a vegetação estrangeira pela nativa, em um processo de descolonização vegetal da paisagem. O processo repetido continuamente, desenvolve um percurso ondulante que aproveita o terreno e prolonga o tempo de caminhada ao máximo, como um anti-atalho ou um passeio inútil, sem função de transportar e ganhar tempo. A imersão na vegetação, convida ao ócio, a sensibilização e descolamento da espacialidade e tempo cotidiano.​​

A arte ruderal

Ruderal, do latim ruderis, significa literalmente entulho, e designa comunidades vegetais adaptadas para se desenvolver em ambientes fortemente alterados e perturbados pela ação humana. As plantas ruderais seguem os passos do homem e estabelecem neles, condições para outras formas vegetais mais exigentes, num processo continuo de sucessão até a completa restauração biológica.

Em arte, comportamento ruderal designa artistas ou trabalhos que se utilizam de espaços institucionais áridos ou terrenos públicos assépticos da cidade, para estabelecer territórios de diversidade biológica e cultural. Tudo o que acontece no Cerrado Infinito é ruderal.

​​A descolonização

​O espaço público tomado por ervas daninhas, ressignificadas visualmente como paisagem natural histórica da cidade, se torna um território para novos processos.​ No convívio as pessoas se tornam a fauna possível de um um ecossistema artístico que atua além da dimensão da natureza, em esferas simbólicas que promovem outra ordem de conexão. Pela trilha se compartilham sementes, mudas de plantas, informações, eventos, idéias, arte, pesquisa e diversão. O evento DESCOLONIZATION!!! Pick nick Internacional de decolonização da paisagem vegetal mundial, realizado aleatóriamente, apresenta algumas experiências  artísticas desenvolvidas no Cerrado Infinito, por diferentes artistas  e  pesquisadores, de arte sonora, instalações, dança e performace, além de conversas abertas com convidados. Os Cerrados Infinitos, desenvolvidos em diferentes locais, constituem fragmentos de uma trilha única, conectada entre si pela imaginação, e a vontade de ser percorrida coletivamente, ignorando a geografia determinada pelo urbanismo, as diferenças sociais e os sistemas de transporte urbanos. 

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“Os novos poderes tendem a um complexo de atividades humanas que se situam além da utilidade: os tempos disponíveis, os jogos superiores. Contrariamente ao que pensam os funcionalistas, a cultura se encontra lá onde termina o útil.”

Alberts, Armando, Constant, Oudejans, Primeira proclamação da Facção Holandesa da Internacional Situacionista. 1959

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ENTREVISTAS        E REPORTAGENS